10.ENTREVISTA - Pedro Caldinho BV Fundão

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De forma muito pessoal iniciamos esta entrevista numa base de respeito mutuo colocando de lado na elaboração destas perguntas a amizade que nutrimos um pelo outro.

Pedro Miguel Sousa Silvério Caldinho, 25 anos de idade, Bombeiro Profissional em permanência no grupo de primeira intervenção dos Bombeiros Voluntários do Fundão.

Percurso profissional – Tripulante de Ambulância de Socorro durante sete anos, nos bombeiros do Seixal, possui formação na Área – Tripulante de ambulância de Socorro, Salvamento e Desencarceramento, Salvamento em Grande Ângulo, Mergulhador, Formação de Traçados Cardíacos, Formação de Farmacologia e Formação de Ventilação Assistida.

FormarParaSalvar (FPS): Para ponto de partida nesta entrevista gostaria de saber o porque de abraçar esta área e os objectivos ou metas que se propôs desde o inicio.

Pedro Caldinho (PC): O que me levou a seguir a área da emergência pré-hospitalar, foi o facto de quando entrei para os bombeiros não ter idade para fazer serviço operacional. De inicio comecei por assistir a formações, fazer perguntas sobre a área aos colegas mais velhos e ver as ambulâncias para começar a ter o primeiro contacto com o material nelas existente, e assim ir me familiarizando. Chegada a tão esperada hora de poder começar a ir para a rua e ver a realidade do mundo que nos aguarda lá fora, ainda que fosse como terceiro elemento visto a experiencia ainda ser pouca. No entanto deu para começar a tomar o gosto pela área e a vontade de aprender cada vez mais e a cada serviço efectuado crescia a ansiedade do que iria ver e aprender no próximo. Quanto aos objectivos era claramente conseguir tirar o curso de Tripulante de Ambulância de Socorro, no que toca a metas penso que cada vez que atingimos uma, já devemos ter outras tantas em mente para alcançar.

FPS: Quais as funções que desempenha na aérea da emergência pré hospitalar? Quais as obrigações diárias?

PC: Eu sou Tripulante de Ambulância de Socorro, umas vezes com a função de motorista, outras como socorrista, mas na minha opinião não deve existir diferença entre as duas funções, visto que o objectivo é formar uma equipa coesa e profissional no desempenho da sua missão. As obrigações são as de manter a ambulância sempre operacional, e acima de tudo mantermo-nos sempre actualizados no que diz respeito a novas técnicas para que o socorro que prestamos seja sempre o melhor possível.

FPS: Qual a opinião sobre o socorro a nível nacional?

PC: Algumas medidas têm vindo a ser tomadas nos últimos anos no que diz respeito á reorganização do socorro, umas que vieram trazer melhorias, outras nem tanto. Pode-se mesmo dizer que ainda há muito por fazer, mas vamos dar tempo ao tempo e o benefício da dúvida a quem têm o poder de decisão nesta área.

FPS: Dentro da realidade do interior como acha que esta a prestação de socorro?

PC: Por vezes as entidades que têm sobre a sua alçada alguns dos agentes de protecção civil esquecem-se que Portugal não se resume apenas ao grandes centros urbanos, e que o interior do pais é prejudicado quer pela sua geografia, quer pelas suas redes viárias mas também por medidas que são criadas por estas entidades, mas que não são viáveis para esta região do pais.

FPS: A ideia que se transmite do bombeiro voluntario é de irresponsabilidade e desleixo concorda? Porque?

PC: Foi criado noutros tempos um estereótipo não só em relação aos bombeiros, mas também ás autoridades policiais e aos funcionários públicos. Mas nem tudo o que se diz é verdade. É lógico que haverá sempre excepção á regra, mas não podemos rotular todos pelas atitudes de alguns.

FPS: Vindo de uma realidade mais dura como é o Seixal, chegou ao Fundão e qual a grande diferença ou a grande marca que notou?

PC: São claramente realidades diferentes por muitas razões, mas penso que as principais são o nível de desenvolvimento, o número populacional e claro o stress do quotidiano que é vivido nas grandes cidades, que felizmente ainda é muito reduzido nesta zona.

FPS: Enquanto população pergunto-lhe será que os Bombeiros Voluntários do Fundão estão aptos a todos os tipos de socorro?

PC: Não se pode dizer que estejam aptos para todos os tipos de socorro, porque nem mesmo outros intervenientes da área do socorro que têm apenas a vertente profissional o estão. Se vir mos bem as exigências do socorro há 10 anos atrás não são as mesma que nos são impostas hoje em dia. Pode-se dizer que se foi tentando acompanhar as evoluções das várias vertentes onde os bombeiros têm que intervir, o que nem sempre é possível, quer por falta de oferta formativa por parte das entidades competentes, quer por falta de bens materiais, bem como por questões financeiras porque regra geral todos os equipamentos utilizados pelos bombeiros são bastante caros e frágeis, o que leva muitas vezes a que o seu tempo de vida útil seja bastante curto.

FPS: Parece-me enquanto observador neutro que os bombeiros deveriam ser mais exigentes e mais formados, que lhe parece esta minha visão?

PC: Penso que não só os bombeiros como a população em geral devem ser exigentes, por que se virmos bem os bombeiros têm como missão prestar um serviço ás populações embora numa área bastante complexa, logo como “consumidores finais” desses serviços devem exigir qualidade. Devemos é sempre ter em atenção que por vezes os profissionais quem dão o seu melhor no dia a dia nem sempre têm as melhores condições para fazer o seu trabalho, quer no acesso á formação, quer nos materiais ao seu dispor. Gostaria também de dizer que não devemos fazer criticas destrutivas, mas sim construtivas para que possamos aprender como os nossos erros.

FPS: Qual o grande desejo pessoal e profissional para o ano em curso?

PC: Fundamentalmente è sentir-me realizado a nível pessoal para que possa fazer aquilo que gosto a nível profissional que é ajudar os outros, e salvar vidas.

FPS: Por ultimo pedia lhe uma breve opinião sobre o blogue e um comentário aos leitores deste espaço.

PC: É sem dúvida de louvar a criação deste blogue, porque aborda temas bastante importantes e que muitas vezes são descorados. Gostaria de aproveitar para lembrar ao leitores que podem e devem utilizar o blogue para tirarem as suas dúvidas e porem as suas questões, porque devemos lutar para que se mantenha em constante crescimento e sempre actualizado, e que seja um espaço com utilidade e que a informação nele contida possa algum dia fazer diferença na vida de alguém, e não apenas mais um sítio da internet onde apenas é descarregada informação sem qualquer interesse ou utilidade. Gostaria também de deixar um abraço de confiança ao meu amigo André Morais, porque iniciativas desta são sempre muito bem-vindas, e de o lembra que sempre que precisar de ajuda cá estarei, porque deveria haver neste pais mais pessoas como ele que estão dispostos a ajudar o próximo muita vezes sacrificando a vida pessoal e sem pedir nada em troca.

Nota do editor: Um agradecimento efectivo a um profissional competente com quem tenho o prazer de privar diariamente tanto profissionalmente como pessoalmente. Um grande bem haja pela disponibilidade.