domingo, 17 de abril de 2011

218.NOTA INFORMATIVA SOBRE DESASTRE NUCLEAR DO JAPÃO

Partilhar
AFPS 

ASSOCIAÇÃO
FORMAR PARA SALVAR

Nota Informativa

Acidente Nuclear de Fukushima Daiichi, Japão

Questões de Saúde Pública

1.  O que é a radiação ionizante?

A radiação ionizante é aquela que transporta energia suficiente para provocar alterações ao nível dos tecidos biológicos (por ionização). Pode ser produzida por formas artificiais (geradores de raios-X) ou naturalmente com a desintegração do núcleo de determinados átomos radioactivos (que se desintegram, emitindo radiação), designados de “radioisótopos”.  

À medida que os átomos radioativos se vão desintegrando, vão-se transformando, sucessivamente noutros elementos químicos até chegarem a um elemento estável. Desta forma, a quantidade de material radioativo presente vai decrescendo ao longo do tempo. Ao tempo necessário para que a quantidade de um radioisótopo decresça para metade dá-se o nome de “semivida”. Esta semivida é característica de cada radioisótopo, podendo ir de algumas frações de segundo até milhões de anos.

A unidade de medida da dose recebida pelos indivíduos é o Sievert (Sv), que tem em conta o tipo de radiação e os efeitos produzidos em cada órgão do corpo.

Numa situação de emergência, e no que diz respeito à população, existem níveis de referência a partir dos quais se torna necessário tomar medidas específicas, de acordo com as orientações internacionais. A título de exemplo, se a população estiver em risco de ser  exposta a uma dose superior a 10 mSv (miliSievert), recomenda-se o abrigo. Se a dose for superior a 50 mSv, deverá haver evacuação da zona afetada.

2.  Qual o grau de perigosidade do acidente para a Saúde Pública? A que radiação pode a população estar exposta num acidente deste tipo?

Os reactores nucleares deste tipo são construídos de raiz, com múltiplos sistemas de segurança intrínsecos. Um dos principais sistemas de segurança é a existência de um edifício de contenção que, sendo estanque, está desenhado para impedir fugas radioativas significativas para o exterior. No entanto, no caso deste sistema de contenção falhar, pode ocorrer a libertação de materiais radioactivos provenientes do núcleo do reator para o exterior que incluem vários isótopos diferentes.

Os principais radioisótopos com risco para a saúde, em caso de acidente, são as variantes radioativas do Césio (Cs-137) e do Iodo (I-131), que poderão ser expelidas para a atmosfera em nuvem (designada também por pluma) radioativa. Esta nuvem pode ser arrastada pelo vento e depositar-se no solo, podendo contaminá-lo.

A semivida do Iodo radioativo (I-131) é de 8.3 dias, o que significa que, após esse período, a quantidade presente se terá reduzido para metade, passando a valores residuais cerca de 3 meses após a libertação. A semivida do Césio radioativo (Cs-137) é de cerca de 30 anos, o que poderá justificar a adopção de medidas de limpeza e descontaminação das zonas afetadas, dependendo da quantidade libertada.

As vias de exposição da população a estes radioisótopos são três:

  Contacto directo com as partículas presentes na pluma radioativa (ex: exposição externa da pele);
  Inalação de partículas radioativas (ex: por respiração);
  Ingestão de partículas radioativas (ex: a deposição no solo, que pode contaminar a cadeia alimentar).

No caso do acidente de Chernobyl, a dose recebida pela população evacuada (cerca de 115.000 indivíduos) foi da ordem de 30 mSv; saliente-se que um exame de tomografia axial computorizada (TAC) envolve, para o paciente, uma dose da ordem de 9 mSv.

3.  Quais os efeitos a longo prazo da exposição à radiação?

A exposição a radiação ionizante tem efeitos específicos e, de uma forma geral, bem conhecidos, consoante a sua magnitude. A exposição a doses  acima dos 1.000 mSv resulta em efeitos específicos na saúde, como a Síndrome de Radiação Aguda, danos na medula óssea (leucemia), danos no sistema nervoso central, queimaduras e cataratas. Estes efeitos são chamados de determinísticos  -  sabe-se que irão ocorrer, após exposição a determinada dose, aumentando a sua severidade quando esta aumentar.

Em relação à exposição a doses abaixo de 1.000 mSv, os estudos epidemiológicos demonstraram a ausência dos efeitos determinísticos referidos, mas revelaram um aumento do risco de cancro (risco  é a  probabilidade  de ocorrência de um efeito). Este risco aumenta, de forma linear, quando a dose aumenta, no entanto, a sua severidade não aumenta com a dose recebida, aumentando apenas a probabilidade da sua ocorrência (efeito estocástico).

De acordo com dados recolhidos no passado, numa emergência nuclear, foram registados aumentos de casos de leucemia, alguns anos após a exposição. O risco de cancros sólidos apenas aumentou cerca de 10 anos após a exposição. A acumulação de Iodo radioativo  na tiroide fez aumentar o número de casos de cancro na tiroide na população, especialmente em crianças. 

O impacto psicológico de uma emergência nuclear foi outro fator a ter em conta, sendo especialmente marcante no caso de Chernobyl.

4.  Quais as medidas de Saúde Pública que devem ser tomadas para reduzir a exposição da população?

As medidas mais eficazes na redução da exposição externa à pluma radioativa são:

  Evacuação da área diretamente afetada;
  Recomendação à população das áreas mais afastadas para que fique dentro de casa (Abrigo) durante a passagem da pluma.

No que diz respeito à exposição interna (por ingestão e inalação), as principais medidas a tomar envolvem:

  Proibição do consumo de vegetais, leite e derivados produzidos em zonas onde tenha ocorrido deposição. Estes devem ser substituídos por produtos importados de locais não contaminados.
  Administração de iodo estável (não radioativo) sob a forma de comprimidos de iodeto de potássio, imediatamente antes da passagem da pluma radioativa, de forma a impedir a absorção de iodo pela glândula tiroide. Esta medida é especialmente eficaz no grupo etário dos 0-18 anos e deve ser tomada de acordo com os critérios de emergência nacionais - a Agência Internacional de Energia Atómica e Organização Mundial de Saúde recomendam a distribuição de comprimidos de iodeto de potássio apenas no caso de a dose prevista para a tiróide atingir um nível de intervenção que o justifique.

5.  O iodo estável (não radioactivo) protege da radiação? Como? Como deve ser administrado? 

O corpo humano utiliza iodo nas suas funções fisiológicas. Este elemento é absorvido, principalmente, pela tiroide, que o utiliza para produzir hormonas. O objetivo da administração de comprimidos de iodeto de potássio é saturar a tiroide antes da exposição à pluma radioactiva, de forma a que esta deixe temporariamente de absorver Iodo (durante cerca de 24 horas). 

Desta forma, impede-se a acumulação do Iodo radioativo (I-131) naquela glândula, evitando-se a sua irradiação. A existência prévia de comprimidos de iodeto de potássio faz parte do planeamento de emergência de uma central nuclear. Dados recolhidos durante o acidente de Chernobyl demonstram que o Iodo radioativo (I-131) representou o maior impacto na população, tendo sido diagnosticados mais de 5000 casos de cancro da tiroide em crianças (0-18 anos de idade) devido à exposição àquele isótopo. As principais prioridades na administração de iodeto de potássio serão,   portanto, crianças e mulheres grávidas. No caso das mulheres grávidas, a quantidade a administrar deverá ter também em conta a proteção da tiroide do feto.

Note-se, contudo, que os comprimidos de iodeto de potássio não protegem contra radiação externa ou contra radiação emitida por outros isótopos radioativos que estejam presentes e que possam ser absorvidos pelo corpo humano. Por este motivo, há sempre necessidade de combinar esta medida com as mencionadas na questão anterior.

Dado que esta medida apenas é eficaz quando tomada imediatamente antes da exposição e também para evitar eventual contraindicação,  a administração de iodeto de potássio apenas deve  ocorrer no momento e nos locais indicados pelas autoridades.

Face a isto,  é importante salientar que  a auto-medicação com Iodo, sem indicação das autoridades pode ter consequências graves e impedir a eficácia desta medida, quando, de facto, for necessária. Paralelamente, o consumo de sal iodado ou outros alimentos com Iodo não oferece a proteção necessária.

No que diz respeito à profilaxia com Iodo estável, salienta-se ainda que esta é uma medida apenas utilizada em países que produzem energia eléctrica por via nuclear. Com efeito, trata-se de um dos requisitos a implementar para a instalação de uma central nuclear. No caso de países onde não existem centrais nucleares, esta medida apenas se aplica em casos particulares, pois face aos estudos mais recentes, a profilaxia com Iodo estável apenas é eficaz numa área  restrita em torno do acidente. As centrais nucleares mais próximas do nosso País encontram-se já fora dessa área.

Não obstante, caso  fosse  necessário tomar  esta medida, poder-se-ia  recorrer à preparação solúvel de iodeto de potássio, disponível em farmácia.   
6.  O acidente nuclear irá ter repercussões fora do Japão?

A extensão das repercussões irá depender da radioatividade libertada para o ambiente e das condições meteorológicas locais, sendo especialmente importantes a direção e velocidade dos ventos e a possibilidade de ocorrência de chuva.

De acordo com a informação disponível até ao momento, é pouco provável que os países vizinhos sejam afetados de forma significativa. Até ao momento, a área afetada é a zona num raio de 30km (ver Figura 1) da Central Nuclear de Fukushima-Daiichi, tendo as autoridades japonesas recomendado a tomada de medidas
específicas:  

  Evacuação num raio de 20 km;
  Recomendar abrigo na área de 20 km a 30 km da central.

As autoridades japonesas, com a ajuda de peritos internacionais, encontram-se a fazer medições contínuas na água do mar dentro da zona afetada, que se mantém de acesso interdito ao público em geral.

Foram ainda detetados  alguns pontos de contaminação em locais fora desta zona, mas bem delineados e circunscritos, estando a ser tomadas as medidas adequadas para salvaguardar a saúde dos cidadãos.

Fora do Japão, foi detectada a presença de materiais radioativos no ar, transportados pela circulação atmosférica. Existe uma rede de medição internacional que segue a situação continuamente. Até ao momento, as quantidades destes materiais são muito baixas em todos os pontos de medição em que foram registadas, não representando qualquer risco para a saúde.
 
7.  Se precisar de me deslocar ao Japão, que devo fazer?  

O Ministério dos Negócios Estrangeiros, através da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas emitiu, a 16 de março, o seguinte alerta:

Dada a situação no Japão, aconselham-se todos os cidadãos nacionais que, não tendo razões essenciais para permanecer no país, a considerar a possibilidade de saírem temporariamente do Japão ou a deslocarem-se para o sul do país, nomeadamente famílias com crianças e grávidas. Desaconselham-se todas as viagens não essenciais àquele país.

Se não lhe for possível seguir aquele conselho, siga as instruções das autoridades locais na rádio ou televisão. Evite a área afetada. Fique dentro de casa, se ocorrer a passagem de uma pluma radioactiva.

In site DGS

ALERTAR PARA INFORMAR 
AFPS

Sem comentários: