FORMAR PARA SALVAR
ENTREVISTA MENSAL
Dr.ª CATARINA AFONSO
FormarParaSalvar (FPS): Para ponto de partida nesta entrevista gostaria de saber o porque de abraçar esta área e os objectivos ou metas que se propôs desde o inicio.
Catarina Afonso (CA): A minha escolha por esta profissão, não foi como acontece com muitas pessoas, um desejo que vem desde pequenino. Simplesmente proporcionou-se. Já andava no ensino secundário quando se deu o meu interesse por esta área profissional. Feitas as contas acho que fiz a opção certa.
Trata-se de uma profissão muito bonita, que choca muito quando é identificada a realidade social e as fragilidades e carências das pessoas, mas altamente gratificante quando se constata que o bom trabalho desenvolvido por estes profissionais levou estas pessoas a uma situação de emancipação e independência.
FPS: Quais as funções que desempenha na aérea da assistência social? Quais as obrigações diárias?
CA: Isso tudo depende da instituição em que estamos inseridos, como é obvio, mas de um modo geral, o nosso papel nestas instituições (para idosos) passa por:
- entrevistar possíveis utentes, familiares ou responsáveis para a sua admissão na instituição;
- participar na definição, promoção e concretização das políticas de intervenção social a cargo dos respectivos serviços;
- identificar e analisar os problemas e necessidades de apoio social dos utentes, elaborando o respectivo diagnóstico social;
- envolver e orientar os utentes, famílias e grupos no auto-conhecimento e procura dos recursos adequados às suas necessidades;
- encorajar, apoiar ou potenciar as iniciativas do utente no que se refere à sua autonomia, independência, participação, privacidade e confidencialidade;
- fazer visitas domiciliárias aos utentes de modo a contextualizar a situação sócio-familiar dos idosos e garantir a sua satisfação relativamente aos serviços prestados, entre outros.
No entanto, o campo de actuação do Assistente Social é muito vasto e na maior parte das instituições, exercemos funções que extrapolam as exigências da nossa profissão, estou a referir-me por exemplo à Direcção Técnica.
FPS: Vivendo uma realidade dura todos os dias, qual a grande diferença ou a grande marca que notou na sua personalidade/forma de estar?
CA: É sempre dificil distinguir aquilo que são as nossas características pessoais e o que foi influênciado pela profissão.Nesta área aprendemos que nunca nos podemos basear numa só visão do problema, tentando sempre manter-nos neutros em relação à situação dos individuos, sem fazer qualquer julgamento. Daí a importância de termos uma boa capacidade de observação, capacidade de compreensão e de análise crítica.
FPS: Dentro da realidade do interior como acha que esta a prestação de apoio a idosos?
CA: Como em todas as áreas, existem bons e maus exemplos na prestação de apoio a idosos, mas em comparação a alguns anos atrás nota-se que se têm feito muitos esforços para que a situação se modifique. No entanto, ainda há muita coisa a ser feita.
FPS: Mudando um pouco o rumo das perguntas, e assim levando-a a parte do socorro e emergência médica, gostaria de saber qual a sua opinião sobre o socorro em Portugal.
CA: A verdade é que esta é uma área que nem sempre é muito bem vista pela população em geral. Todos nós conhecemos casos de emergência médica em que algo correu mal e que atribuímos como factor de culpa, na maioria das vezes, a negligência por parte dos socorristas ou então o tempo que demoraram a chegar ao local. No entanto, quando perguntamos a essas pessoas se alguém tinha algum conhecimento na área de primeiros socorros e os aplicou naquele momento até chegarem os socorristas, a resposta é óbvia.
Apesar disso, começamos a notar cada vez mais um maior interesse por parte das pessoas, sobretudo pela camada mais jovem, em aprender pelo menos as noções básicas de socorrismo.
FPS: Enquanto população pergunto-lhe será que os Bombeiros e INEM estão aptos a socorrer e ajudar os nossos idosos?
CA: Penso que sim. Que seria de muitos dos nossos idosos que se encontram em situações de isolamento e sem meios próprios para aceder aos hospitais em situações de emergência?
FPS: Parece-me enquanto observador neutro que se desvaloriza a formação e valorização profissional, o que acha desta minha visão?
CA: É sempre uma mais valia, em qualquer tipo de profissão, ter conhecimentos na área dos primeiros socorros pois quando menos se espera, esses conhecimentos podem tornar-se cruciais para ajudar a salvar um familiar, um colega, um amigo ou mesmo um desconhecido. Mas quando se lida diariamente com grupos de maior risco esses conhecimentos tornam-se essenciais. Todos concordamos com este facto mas na prática muitas vezes é um aspecto deixado para segundo plano.
FPS: Por ultimo pedia lhe uma breve opinião sobre o blog e um comentário aos leitores deste espaço.
CA: Desde que tive conhecimento deste projecto, só tenho elogios a fazer. Na nossa zona, já existia alguma oferta de formação na área dos primeiros socorros,mas nada desta envergadura e não tão abrangente. Quanto ao blog, este veio reforçar o que tem vindo a ser feito no terreno e ainda nos transmite toda uma série de informações e onde podemos esclarecer muitas das nossas dúvidas.
Aconselho todos os leitores a experimentarem fazer pelo menos uma destas formações que têm vindo a ser promovidas e depois digam-me a vossa opinião.
Quero agradecer a disponibilidade e amabilidade da Catarina Afonso em conceder um pouco do seu tempo e partilhar opiniões com todos nós, mostrando um pouco a realidade que vive diariamente.
TRABALHAR PARA ALEGRAR
FPS